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Introdução & Epidemiologia

A pré-eclâmpsia é uma das síndromes hipertensivas da gestação e representa uma das principais causas de morbimortalidade materna e perinatal em todo o mundo, sendo um tema de altíssima frequência no ENARE. É classicamente definida como uma desordem multissistêmica, de causa ainda não totalmente elucidada, caracterizada pelo surgimento de hipertensão arterial após a 20ª semana de gestação em uma mulher previamente normotensa, associada à proteinúria ou, na ausência desta, a sinais de disfunção de órgãos-alvo.

Definição e Classificação

Os critérios diagnósticos para pré-eclâmpsia são:

  1. Hipertensão Arterial: Pressão arterial sistólica (PAS) ≥ 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica (PAD) ≥ 90 mmHg, em duas ocasiões com pelo menos 4 horas de intervalo, após 20 semanas de gestação em uma mulher com pressão arterial previamente normal.
  2. E um dos seguintes:
    • Proteinúria: ≥ 300 mg em urina de 24 horas, ou uma relação proteína/creatinina (RPC) ≥ 0,3, ou 1+ (30 mg/dL) em fita reagente (urina tipo I), sendo este último o método menos acurado.
    • Na ausência de proteinúria, a presença de hipertensão de início recente com qualquer um dos seguintes sinais de gravidade (disfunção de órgão-alvo):
      • Trombocitopenia (plaquetas < 100.000/mm³).
      • Insuficiência renal (creatinina sérica > 1,1 mg/dL ou duplicação da creatinina basal na ausência de outra doença renal).
      • Função hepática alterada (elevação das transaminases ao dobro do limite superior da normalidade).
      • Edema pulmonar.
      • Sintomas cerebrais (cefaleia nova e persistente, que não responde à analgesia usual) ou visuais (escotomas, fosfenas, visão turva).

A pré-eclâmpsia é classificada em duas categorias principais, o que guia diretamente a conduta terapêutica:

  • Pré-eclâmpsia sem sinais de gravidade: Paciente preenche os critérios de hipertensão e proteinúria, mas não apresenta nenhum dos sinais de gravidade listados abaixo.
  • Pré-eclâmpsia com sinais de gravidade: Presença de hipertensão gestacional associada a um ou mais dos seguintes critérios:
    • Hipertensão grave: PAS ≥ 160 mmHg ou PAD ≥ 110 mmHg.
    • Trombocitopenia (< 100.000/mm³).
    • Disfunção hepática (dor em hipocôndrio direito ou epigástrica que não responde à medicação, ou transaminases elevadas > 2x o limite superior).
    • Insuficiência renal progressiva (Creatinina > 1,1 mg/dL).
    • Edema agudo de pulmão.
    • Distúrbios visuais ou cerebrais de início recente (cefaleia, escotomas).

Raciocínio Clínico

A mudança na definição, que agora inclui disfunção de órgãos-alvo mesmo sem proteinúria, é crucial. Ela reflete o entendimento de que a pré-eclâmpsia é uma doença sistêmica de disfunção endotelial. A proteinúria é apenas a manifestação renal dessa disfunção (endoteliose glomerular), mas a doença pode se manifestar primeiro no fígado, no sistema hematológico ou no SNC. Esperar pela proteinúria para diagnosticar um caso grave pode atrasar intervenções que salvam vidas.

Incidência e Fatores de Risco

A pré-eclâmpsia complica de 2% a 8% das gestações em todo o mundo. A identificação dos fatores de risco é fundamental para o rastreamento e a profilaxia com AAS em populações selecionadas.

Tabela 1: Fatores de Risco para Pré-eclâmpsia
Fator de Risco Mecanismo Sugerido Nível de Risco
História prévia de pré-eclâmpsia Predisposição genética/imunológica recorrente. Alto
Gestação múltipla (gemelar, etc.) Maior massa placentária, levando a maior estresse isquêmico e liberação de fatores antiangiogênicos. Alto
Hipertensão arterial crônica Disfunção endotelial e vascular pré-existente. Alto
Diabetes Mellitus (Tipo 1 ou 2) Disfunção endotelial, estresse oxidativo e vasculopatia. Alto
Doença renal crônica Disfunção endotelial e comprometimento da regulação da pressão arterial. Alto
Doenças autoimunes (ex: Lúpus, SAF) Inflamação sistêmica, vasculite, estado pró-trombótico. Alto
Nuliparidade Teoria da má adaptação imunológica à primeira exposição aos antígenos paternos/placentários. Moderado
Obesidade (IMC ≥ 30 kg/m²) Estado inflamatório crônico, resistência à insulina e disfunção endotelial. Moderado
Idade materna avançada (≥ 35 anos) Maior prevalência de comorbidades e disfunção vascular relacionada à idade. Moderado
História familiar de pré-eclâmpsia Componente genético. Moderado

Fisiopatologia

A fisiopatologia da pré-eclâmpsia é complexa e classicamente descrita por um modelo de dois estágios. Este modelo fornece uma estrutura lógica para entender como um problema localizado na placenta se transforma em uma doença sistêmica materna.

Estágio 1: Placentação Anormal

Este estágio ocorre no início da gestação (primeiro trimestre) e é clinicamente silencioso.

  • Remodelação Normal das Artérias Espiraladas: Em uma gestação normal, células trofoblásticas fetais invadem a decídua e o miométrio uterino. Elas transformam as artérias espiraladas maternas, que são vasos de alta resistência e baixo fluxo, em canais de baixa resistência e alto fluxo. Essa remodelação é essencial para garantir um suprimento sanguíneo adequado para a placenta em desenvolvimento e para o feto.
  • Falha na Remodelação na Pré-eclâmpsia: Na pré-eclâmpsia, a invasão trofoblástica é superficial e incompleta. As artérias espiraladas não são adequadamente remodeladas e permanecem como vasos de alta resistência.

Essa falha resulta em hipoperfusão, hipóxia e isquemia placentária. A placenta isquêmica se torna disfuncional e começa a liberar uma série de fatores na circulação materna, o que dá início ao segundo estágio da doença.

Estágio 2: Síndrome Sistêmica Materna

Este estágio é a manifestação clínica da doença, geralmente após a 20ª semana. A placenta isquêmica libera fatores antiangiogênicos, como a tirosina quinase 1 solúvel semelhante a fms (sFlt-1) e a endoglina solúvel (sEng), além de mediadores inflamatórios.

  • Ação do sFlt-1 e sEng: O sFlt-1 liga-se e inativa fatores pró-angiogênicos circulantes, como o fator de crescimento do endotélio vascular (VEGF) e o fator de crescimento placentário (PlGF). A sEng interfere na sinalização do TGF-β. A perda desses fatores pró-angiogênicos leva a uma disfunção endotelial sistêmica.

A disfunção endotelial generalizada é o evento central que explica todas as manifestações clínicas da pré-eclâmpsia:

  • Vasoespasmo: A disfunção endotelial leva a um desequilíbrio entre vasodilatadores (óxido nítrico, prostaciclinas) e vasoconstritores (tromboxano, endotelina), resultando em vasoespasmo generalizado e, consequentemente, hipertensão arterial.
  • Aumento da Permeabilidade Vascular: As células endoteliais danificadas se contraem, aumentando o espaço entre elas. Isso permite o extravasamento de plasma e proteínas para o espaço intersticial, causando edema (incluindo edema pulmonar) e hemoconcentração. No rim, essa lesão endotelial (chamada de endoteliose glomerular) causa a perda de proteínas na urina (proteinúria).
  • Ativação da Coagulação: O dano endotelial expõe o subendotélio, ativando plaquetas e a cascata de coagulação. Isso leva ao consumo de plaquetas (trombocitopenia) e à formação de microtrombos, que podem causar isquemia em órgãos-alvo como fígado e cérebro.

Armadilhas do ENARE

Questões de fisiopatologia podem testar a relação entre os achados clínicos e o mecanismo subjacente. Lembre-se: a dor epigástrica é por isquemia e distensão da cápsula hepática (Cápsula de Glisson); a cefaleia e os escotomas são por vasoespasmo e edema cerebral; a proteinúria é por endoteliose glomerular; e a trombocitopenia é por ativação e consumo plaquetário no endotélio danificado.

Apresentação Clínica e Exame Físico

A apresentação da pré-eclâmpsia pode variar de assintomática, com achados incidentais de hipertensão e proteinúria em uma consulta de pré-natal, a uma emergência hipertensiva com falência de múltiplos órgãos. A anamnese e o exame físico devem buscar ativamente os sinais e sintomas de gravidade.

Sinais e Sintomas Comuns

  • Hipertensão de Início Recente: PAS ≥ 140 mmHg ou PAD ≥ 90 mmHg. É o sinal cardinal.
  • Proteinúria: Frequentemente assintomática, detectada em exames de rotina.
  • Edema: Ganho de peso súbito e edema de mãos, face e membros inferiores. Embora comum, o edema não é mais um critério diagnóstico, pois ocorre em muitas gestações normais. No entanto, um edema generalizado e de rápido desenvolvimento (anasarca) é um sinal de alerta.

Sinais e Sintomas de Gravidade (Sinais de Alerta)

A presença de qualquer um dos seguintes indica pré-eclâmpsia com critérios de gravidade e exige manejo hospitalar imediato:

  • Hipertensão Grave (≥ 160/110 mmHg): Constitui uma emergência médica devido ao alto risco de acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico.
  • Sintomas Neurológicos:
    • Cefaleia: Tipicamente frontal ou occipital, persistente, pulsátil e que não melhora com analgésicos comuns (paracetamol). É um sinal de alerta para iminência de eclâmpsia.
    • Distúrbios Visuais: Escotomas (pontos cegos), fotofobia (sensibilidade à luz), visão turva ou diplopia. Indicam vasoespasmo e edema na vasculatura cerebral posterior.
  • Dor Epigástrica ou em Hipocôndrio Direito: Descrita como uma dor "em barra", persistente e intensa. É causada pela distensão da cápsula hepática (Cápsula de Glisson) devido a edema, necrose e hemorragia periportal. É um sinal de alerta para complicações hepáticas graves, como o hematoma subcapsular ou a ruptura hepática.
  • Náuseas e Vômitos: Podem acompanhar a dor hepática ou o aumento da pressão intracraniana.
  • Dispneia ou Dor Torácica: Sugere edema agudo de pulmão, uma complicação grave causada pelo aumento da permeabilidade capilar pulmonar e disfunção cardíaca.
  • Hiperreflexia e Clônus: O exame neurológico pode revelar reflexos tendinosos profundos exaltados (hiperreflexia) e clônus (contrações rítmicas e involuntárias após estiramento passivo do músculo), indicando irritabilidade do sistema nervoso central e risco aumentado de convulsão (eclâmpsia).

Avaliação Diagnóstica

Uma vez suspeitada a pré-eclâmpsia, a investigação visa confirmar o diagnóstico, avaliar a gravidade e monitorar o bem-estar materno e fetal.

Avaliação Materna

  1. Medida Correta da Pressão Arterial: A paciente deve estar sentada, com o braço ao nível do coração, após 5-10 minutos de repouso. Utilizar um manguito de tamanho adequado é fundamental para evitar leituras falsas.
  2. Avaliação da Proteinúria:
    • Fita Reagente (Urina tipo I): Método de rastreio. Um resultado de 1+ ou mais justifica uma investigação quantitativa.
    • Relação Proteína/Creatinina (RPC) em Amostra Isolada: Método rápido e confiável, preferido em muitos centros. Um valor ≥ 0,3 é diagnóstico.
    • Proteinúria de 24 horas: Considerado o padrão-ouro. Um valor ≥ 300 mg/24h é diagnóstico.
  3. Exames Laboratoriais: Essenciais para avaliar a disfunção de órgãos-alvo e classificar a gravidade.
    • Hemograma completo: Avaliar contagem de plaquetas (trombocitopenia < 100.000/mm³) e hematócrito (hemoconcentração).
    • Função Hepática: Dosagem de transaminases (AST/TGO e ALT/TGP). Elevação > 2x o limite superior da normalidade indica lesão hepática.
    • Função Renal: Dosagem de creatinina sérica. Valor > 1,1 mg/dL ou duplicação do valor basal indica insuficiência renal.
    • Desidrogenase Láctica (LDH): Um marcador de hemólise, frequentemente elevado na síndrome HELLP.

Diagnóstico Diferencial

É crucial diferenciar a pré-eclâmpsia de outras condições que podem apresentar hipertensão na gestação.

Tabela 2: Diagnóstico Diferencial das Síndromes Hipertensivas na Gestação
Condição Características Principais
Hipertensão Gestacional Hipertensão (≥140/90 mmHg) de início após 20 semanas, sem proteinúria ou sinais de disfunção de órgãos-alvo. Pode evoluir para pré-eclâmpsia.
Hipertensão Crônica Hipertensão diagnosticada antes da gestação ou antes de 20 semanas, ou que persiste por mais de 12 semanas pós-parto.
Pré-eclâmpsia Superposta à Hipertensão Crônica Paciente com hipertensão crônica que desenvolve proteinúria de início recente ou piora súbita da hipertensão ou disfunção de órgãos-alvo após 20 semanas.
Síndrome HELLP Uma variante grave da pré-eclâmpsia, caracterizada por Hemólise, Elevação de enzimas hepáticas (Liver enzymes) e Plaquetopenia (Low Platelets). Pode ocorrer sem hipertensão grave.
Fígado Gorduroso Agudo da Gravidez Raro, mas grave. Cursa com insuficiência hepática, hipoglicemia, hiperbilirrubinemia e coagulopatia. A hipertensão e proteinúria podem ser leves.

Tratamento e Manejo

O manejo da pré-eclâmpsia depende fundamentalmente de dois fatores: a idade gestacional e a presença de sinais de gravidade. É importante ressaltar que o único tratamento definitivo para a pré-eclâmpsia é a interrupção da gestação com a remoção da placenta.

Pré-eclâmpsia sem Sinais de Gravidade

O manejo é geralmente expectante, com vigilância rigorosa para detectar a progressão para a forma grave.

  • Vigilância Materna: Monitoramento da pressão arterial (duas vezes por semana), avaliação semanal de sintomas de gravidade e exames laboratoriais (hemograma, função renal e hepática) semanais.
  • Vigilância Fetal: Avaliação do crescimento fetal por ultrassonografia a cada 3-4 semanas, avaliação do volume de líquido amniótico e monitoramento do bem-estar fetal (cardiotocografia, perfil biofísico fetal).
  • Momento do Parto: A interrupção da gestação é recomendada ao se atingir 37 semanas. Antes disso, a conduta expectante é preferível para permitir a maturação fetal, a menos que surjam sinais de gravidade ou comprometimento fetal.

Pré-eclâmpsia com Sinais de Gravidade

Esta condição é uma emergência médica que exige hospitalização imediata e manejo ativo para prevenir complicações graves como eclâmpsia, AVC e morte materna. A conduta se baseia em três pilares: prevenção de convulsões, controle da pressão arterial e planejamento do parto.

1. Prevenção da Eclâmpsia: Sulfato de Magnésio (MgSO₄)

O sulfato de magnésio é o fármaco de escolha para a profilaxia e tratamento das convulsões eclâmpticas. Seu mecanismo de ação principal é a vasodilatação cerebral, diminuindo a isquemia, e o bloqueio dos receptores NMDA, aumentando o limiar convulsivo.

  • Indicação: Todas as gestantes com pré-eclâmpsia com sinais de gravidade.
  • Esquema Terapêutico (Ex: Protocolo de Zuspan):
    • Dose de Ataque: 4 a 6 g de MgSO₄ por via intravenosa (IV), infundidos lentamente em 20-30 minutos.
    • Dose de Manutenção: 1 a 2 g/hora em bomba de infusão contínua.
  • Monitoramento da Toxicidade: O magnésio tem uma janela terapêutica estreita. A monitorização clínica é essencial:
    • Reflexo Patelar: É o primeiro a desaparecer na intoxicação (nível sérico ~10 mEq/L). Deve ser verificado a cada hora.
    • Frequência Respiratória: Depressão respiratória ocorre com níveis mais altos (~12-15 mEq/L). Manter FR ≥ 12 ipm.
    • Diurese: O magnésio é excretado pelos rins. A oligúria (< 25-30 mL/h) é um sinal de alerta para acúmulo e toxicidade.
  • Antídoto: Em caso de toxicidade (principalmente depressão respiratória), administrar Gluconato de Cálcio 10% (10 mL IV lentamente).

Conceito-Chave Validado pelo Exame: ENARE_2023_Q65, ENARE_2022_Q72

O manejo da pré-eclâmpsia com sinais de gravidade é um tópico recorrente. As provas exigem o conhecimento de que o sulfato de magnésio é a droga de escolha para a profilaxia de convulsões. Questões frequentemente testam os parâmetros de monitoramento da toxicidade (reflexo patelar, frequência respiratória, diurese) e o antídoto (gluconato de cálcio). Saber indicar e manejar o MgSO₄ é uma competência essencial.

2. Controle da Hipertensão Grave

O objetivo não é normalizar a pressão, mas reduzi-la a um nível mais seguro (PAS 140-150 mmHg, PAD 90-100 mmHg) para prevenir AVC. A redução deve ser gradual.

Tabela 3: Anti-hipertensivos de Primeira Linha na Crise Hipertensiva da Gestação
Fármaco Mecanismo de Ação Dose Típica Observações
Hidralazina (IV) Vasodilatador arteriolar direto. 5 mg IV, pode ser repetido a cada 20 min. Pode causar taquicardia reflexa e cefaleia. Início de ação em 10-20 min.
Labetalol (IV) Bloqueador alfa-1 e beta-adrenérgico. 20 mg IV, seguido por doses crescentes (40, 80 mg) a cada 10 min. Contraindicado em asma e insuficiência cardíaca. Início de ação rápido (1-2 min).
Nifedipino (Oral, liberação rápida) Bloqueador de canal de cálcio. 10-20 mg VO, pode ser repetido em 20 min. Risco de hipotensão abrupta. A via sublingual foi abandonada.

3. Momento do Parto

  • Gestação ≥ 34 semanas: O parto está indicado após a estabilização materna. A via de parto (vaginal ou cesárea) é uma decisão obstétrica, não uma indicação pela pré-eclâmpsia em si.
  • Gestação < 34 semanas (e viável): O manejo é um desafio. Se a condição materna ou fetal for instável, o parto é indicado. Se for possível estabilizar a mãe, pode-se tentar uma conduta expectante em centro terciário, administrando corticosteroides (betametasona ou dexametasona) para acelerar a maturação pulmonar fetal e aguardar 48 horas para o parto.

Complicações e Prognóstico

A pré-eclâmpsia é uma doença que pode levar a complicações graves tanto para a mãe quanto para o feto, sendo a principal razão para o seu manejo agressivo.

Complicações Maternas

  • Eclâmpsia: Ocorrência de convulsões tônico-clônicas generalizadas em uma paciente com pré-eclâmpsia. É uma emergência neurológica.
  • Síndrome HELLP: Complicação grave caracterizada por Hemólise, Elevação de enzimas hepáticas e Plaquetopenia. Aumenta significativamente o risco de morte materna.
  • Descolamento Prematuro de Placenta (DPP): A hipertensão e a vasculopatia podem levar à ruptura de vasos na decídua basal, causando a separação da placenta.
  • Acidente Vascular Cerebral (AVC): Principalmente hemorrágico, devido à ruptura de vasos cerebrais em picos hipertensivos.
  • Edema Agudo de Pulmão: Acúmulo de fluido nos pulmões devido à disfunção endotelial, sobrecarga hídrica e, por vezes, disfunção cardíaca.
  • Insuficiência Renal Aguda (IRA): Causada por hipoperfusão renal severa e endoteliose glomerular.

Complicações Fetais

As complicações fetais são, em sua maioria, consequências da insuficiência placentária e da necessidade de interrupção prematura da gestação.

  • Restrição de Crescimento Intrauterino (RCIU): A hipoperfusão placentária crônica impede o fornecimento adequado de nutrientes e oxigênio ao feto.
  • Oligoidrâmnio: Redução do líquido amniótico, também secundária à insuficiência placentária e redistribuição do fluxo sanguíneo fetal.
  • Prematuridade Iatrogênica: A necessidade de interromper a gestação para salvar a mãe é uma das principais causas de parto prematuro.
  • Sofrimento Fetal Agudo e Óbito Fetal: Em casos de insuficiência placentária grave ou DPP.

Prognóstico a Longo Prazo

Mulheres que tiveram pré-eclâmpsia, especialmente formas graves ou de início precoce, têm um risco aumentado de desenvolver doenças cardiovasculares no futuro, incluindo hipertensão crônica, doença isquêmica do coração, AVC e tromboembolismo venoso. Elas devem ser aconselhadas a adotar um estilo de vida saudável e a realizar acompanhamento cardiovascular ao longo da vida.

Populações Especiais e Prevenção

Pré-eclâmpsia de Início Precoce vs. Tardio

  • Início Precoce (< 34 semanas): Geralmente associada a uma placentação mais deficiente, maior gravidade, piores desfechos maternos e fetais, e maior risco de recorrência.
  • Início Tardio (≥ 34 semanas): Mais comum, representa cerca de 80% dos casos. Acredita-se que tenha uma fisiopatologia ligeiramente diferente, com menor grau de disfunção placentária e maior contribuição de fatores maternos pré-existentes. Geralmente tem um curso mais benigno.

Manejo Pós-parto

O risco de complicações não termina com o parto. A vigilância deve continuar no puerpério.

  • Monitoramento: A pressão arterial deve ser monitorada de perto por pelo menos 72 horas após o parto e novamente 7-10 dias depois.
  • Sulfato de Magnésio: Geralmente mantido por 24 horas após o parto para profilaxia de eclâmpsia puerperal.
  • Eclâmpsia Pós-parto: Cerca de 25% dos casos de eclâmpsia ocorrem após o parto, a maioria nos primeiros dias, mas pode ocorrer até semanas depois. Toda puérpera com cefaleia e hipertensão deve ser investigada.

Prevenção com Aspirina (AAS) em Baixa Dose

A administração de AAS em baixa dose é a única estratégia preventiva com eficácia comprovada para reduzir o risco de pré-eclâmpsia em populações de alto risco.

  • Mecanismo: Acredita-se que o AAS corrija o desequilíbrio entre tromboxano (pró-agregação e vasoconstrição) e prostaciclina (anti-agregação e vasodilatação), favorecendo um estado de vasodilatação e melhorando a perfusão placentária.
  • Indicação: Mulheres com alto risco para pré-eclâmpsia (ex: história de pré-eclâmpsia, gestação múltipla, hipertensão crônica, diabetes, doença renal ou autoimune).
  • Dose e Duração: A dose recomendada é de 100 a 150 mg/dia, administrada preferencialmente à noite. Deve ser iniciada entre 12 e 16 semanas de gestação e mantida até aproximadamente 36 semanas.
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