Menopausa e Climatério
O climatério representa a transição fisiológica do período reprodutivo para o não reprodutivo na vida da mulher. É uma fase marcada por profundas mudanças endócrinas, metabólicas e psicológicas, com impacto significativo na qualidade de vida. O manejo adequado dos sintomas e a prevenção das consequências a longo prazo do hipoestrogenismo são temas de alta frequência e relevância nas provas de residência, incluindo o ENARE.
Introdução e Epidemiologia
Para uma abordagem precisa, é fundamental dominar a terminologia recomendada pela Sociedade Internacional de Menopausa e pela Organização Mundial da Saúde.
Definições Fundamentais
- Climatério: É o período de transição que engloba a perimenopausa e se estende até os primeiros anos da pós-menopausa. Caracteriza-se pelo declínio progressivo da função ovariana.
- Perimenopausa: Literalmente "ao redor da menopausa". Inicia-se com os primeiros sinais de irregularidade menstrual e sintomas climatéricos (como fogachos) e termina 12 meses após a última menstruação. É a fase de maior flutuação hormonal.
- Menopausa: Corresponde à data da última menstruação, confirmada retrospectivamente após 12 meses consecutivos de amenorreia, sem outra causa patológica. Marca o fim da capacidade reprodutiva natural.
- Menopausa Natural: Ocorre espontaneamente devido ao esgotamento dos folículos ovarianos. A idade média de ocorrência no Brasil e no mundo é em torno dos 51 anos (variando de 48 a 52 anos).
- Menopausa Iatrogênica: É induzida por intervenção médica, como a ooforectomia bilateral cirúrgica ou a ablação da função ovariana por quimioterapia ou radioterapia pélvica.
- Pós-menopausa: Período que se inicia após a menopausa. É dividido em pós-menopausa precoce (primeiros 5 anos) e tardia.
Condições Especiais
- Menopausa Precoce: Ocorre entre os 40 e 45 anos de idade.
- Falência Ovariana Prematura (FOP) ou Insuficiência Ovariana Primária (IOP): É a perda da função ovariana antes dos 40 anos. Caracteriza-se por amenorreia, hipoestrogenismo e níveis elevados de gonadotrofinas (FSH). É uma condição patológica que requer investigação etiológica (causas genéticas, autoimunes, iatrogênicas ou idiopáticas).
Fatores Influenciadores e Impacto
A idade de início da menopausa é amplamente determinada por fatores genéticos. No entanto, alguns fatores de estilo de vida podem influenciá-la:
- Tabagismo: É o fator mais consistentemente associado à antecipação da menopausa em 1 a 2 anos. As toxinas do cigarro parecem acelerar a atresia folicular.
- Outros Fatores: Baixo índice de massa corporal (IMC), nuliparidade e histórico familiar de menopausa precoce também estão associados a uma idade de início mais cedo.
A prevalência de sintomas climatéricos é alta, afetando até 80% das mulheres. Os sintomas vasomotores (fogachos) são os mais comuns e podem ser debilitantes, interferindo no sono, no humor e na produtividade, gerando um impacto profundo na qualidade de vida.
Armadilhas do ENARE
As provas frequentemente testam a precisão das definições. Lembre-se: Menopausa é um evento pontual (a data da última menstruação), enquanto Climatério é um período de transição. A Falência Ovariana Prematura (FOP) ocorre antes dos 40 anos e é considerada uma condição patológica, diferentemente da menopausa natural.
Fisiopatologia
A transição para a menopausa é impulsionada pela senescência ovariana, um processo contínuo de esgotamento do pool de folículos primordiais que se inicia na vida intrauterina e se acelera a partir dos 37-38 anos.
A Cascata Hormonal da Senescência Ovariana
- Diminuição da Inibina B e Aumento do FSH: O primeiro marcador endócrino detectável da transição menopausal é a redução dos níveis de inibina B, um hormônio produzido pelas células da granulosa dos folículos em crescimento. A inibina B exerce feedback negativo sobre a secreção de FSH pela hipófise. Com sua queda, os níveis de FSH começam a se elevar para tentar recrutar mais folículos e manter a produção de estradiol. Este aumento do FSH é o sinal mais precoce e característico da falência ovariana iminente.
- Flutuação e Declínio do Estradiol: Inicialmente, na perimenopausa, o aumento do FSH pode levar a uma resposta ovariana exagerada, resultando em ciclos com níveis de estradiol paradoxalmente elevados (hiperestrogenismo relativo), alternados com ciclos anovulatórios de baixo estradiol. Com o tempo, à medida que os folículos se esgotam, a capacidade de produzir estradiol diminui progressivamente, levando ao hipoestrogenismo definitivo da pós-menopausa.
- Declínio da Progesterona: A produção de progesterona depende da ovulação e da formação do corpo lúteo. Como os ciclos se tornam cada vez mais anovulatórios na perimenopausa, a produção de progesterona torna-se deficiente e irregular, contribuindo para a irregularidade menstrual (ciclos curtos, longos, sangramento de escape).
Raciocínio Clínico
Por que o FSH é o primeiro hormônio a se alterar? Porque a hipófise "percebe" a falha ovariana incipiente (pela queda da inibina B) e tenta "compensar" aumentando o estímulo (FSH) para manter a produção de estrogênio. Por isso, um FSH elevado com estradiol ainda normal ou até alto pode ser visto no início da perimenopausa.
Efeitos Sistêmicos do Hipoestrogenismo
A deficiência de estrogênio, um hormônio com receptores em múltiplos tecidos, explica a vasta gama de sintomas e consequências a longo prazo da menopausa.
| Sistema Orgânico | Efeitos da Deficiência de Estrogênio | Manifestações Clínicas |
|---|---|---|
| Sistema Nervoso Central (SNC) | Desregulação do centro termorregulador no hipotálamo; alteração de neurotransmissores (serotonina, noradrenalina). | Sintomas vasomotores (fogachos, suores noturnos), distúrbios do sono, alterações de humor, depressão, ansiedade, declínio cognitivo ("brain fog"). |
| Trato Urogenital | Atrofia do epitélio vaginal e uretral (que são estrogênio-dependentes), diminuição da vascularização e do colágeno, aumento do pH vaginal. | Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGUM): secura vaginal, dispareunia, prurido, fissuras; sintomas urinários como urgência, disúria, infecções urinárias de repetição. |
| Metabolismo Ósseo | Aumento da atividade dos osteoclastos (reabsorção óssea) por aumento da expressão de RANK-L e diminuição da osteoprotegerina (OPG). | Perda acelerada de massa óssea, levando à osteopenia e osteoporose, com aumento do risco de fraturas (principalmente de vértebras, quadril e punho). |
| Sistema Cardiovascular | Perfil lipídico aterogênico (aumento de LDL e triglicerídeos, diminuição de HDL), disfunção endotelial, aumento da rigidez arterial. | Aumento do risco de doença arterial coronariana, hipertensão e acidente vascular cerebral (AVC) a longo prazo. |
| Pele e Fâneros | Diminuição da produção de colágeno e da espessura da derme. | Pele fina, seca e com mais rugas; cabelos finos e quebradiços. |
Apresentação Clínica e Exame Físico
O quadro clínico do climatério é pleomórfico, mas alguns sintomas são clássicos e altamente sugestivos.
Sintomas Clássicos
- Sintomas Vasomotores:
- Fogachos (ondas de calor): Sensação súbita e intensa de calor na parte superior do corpo (face, pescoço e tórax), geralmente acompanhada de sudorese, palpitações e ansiedade. Duram de 1 a 5 minutos e podem ocorrer várias vezes ao dia.
- Suores Noturnos: Fogachos que ocorrem durante o sono, podendo ser intensos a ponto de encharcar a roupa de cama e interromper o descanso.
- Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGUM): Termo que substituiu "atrofia vulvovaginal" por ser mais abrangente. Inclui:
- Sintomas Vaginais: Secura, queimação, irritação, dispareunia (dor na relação sexual).
- Sintomas Urinários: Urgência miccional, disúria, polaciúria, infecções do trato urinário (ITU) de repetição.
- Sintomas Sexuais: Diminuição da lubrificação e dor, que afetam a função sexual.
- Distúrbios do Sono: Frequentemente secundários aos suores noturnos, mas também podem ocorrer de forma primária. A fragmentação do sono leva à fadiga diurna e irritabilidade.
- Alterações de Humor e Cognitivas: Labilidade emocional, irritabilidade, ansiedade e sintomas depressivos são comuns. Muitas mulheres queixam-se de dificuldades de memória e concentração, popularmente conhecidas como "névoa cerebral" ou "brain fog".
Achados do Exame Físico
O exame físico geral pode ser normal. O exame ginecológico, no entanto, pode revelar sinais claros de hipoestrogenismo:
- Inspeção Vulvar: Perda de pelos pubianos, fusão ou reabsorção dos pequenos lábios, palidez da mucosa.
- Exame Especular: Mucosa vaginal pálida, fina, seca e com perda das rugosidades características. Pode haver petéquias ou equimoses (vaginite atrófica). O colo uterino pode parecer diminuído e o orifício externo, estenosado.
- Toque Vaginal: Útero e ovários geralmente não são palpáveis na pós-menopausa. A palpação de uma massa anexial na pós-menopausa deve ser investigada rigorosamente para excluir malignidade.
- Avaliação do Assoalho Pélvico: A perda de trofismo e colágeno pode agravar ou manifestar prolapsos de órgãos pélvicos (cistocele, retocele).
Avaliação Diagnóstica
O diagnóstico da menopausa é eminentemente clínico na maioria das situações.
Diagnóstico Clínico
Para mulheres acima de 45 anos com sintomas típicos (irregularidade menstrual, fogachos), o diagnóstico é clínico e não requer confirmação laboratorial. A presença de 12 meses de amenorreia confirma a menopausa retrospectivamente.
Raciocínio Clínico
Por que não dosar hormônios rotineiramente em mulheres > 45 anos? Porque na perimenopausa os níveis hormonais (FSH e estradiol) flutuam drasticamente. Um resultado "normal" em um dia não exclui a transição menopausal e pode confundir o raciocínio, além de gerar custos desnecessários. O diagnóstico baseia-se na história clínica.
Avaliação Laboratorial
A dosagem hormonal está reservada para situações específicas:
- Suspeita de Falência Ovariana Prematura (FOP): Mulheres com < 40 anos e amenorreia. O diagnóstico requer duas dosagens de FSH > 25-40 mUI/mL (dependendo da referência do laboratório), colhidas com intervalo de 4 a 6 semanas, associadas a níveis baixos de estradiol.
- Mulheres Histerectomizadas: Sem o marcador da menstruação, a presença de sintomas vasomotores intensos associada a um FSH elevado pode ajudar a confirmar o estado de menopausa.
- Incerteza Diagnóstica: Em casos atípicos ou para excluir outras causas de amenorreia.
Diagnóstico Diferencial
É crucial excluir outras condições que podem mimetizar os sintomas climatéricos, especialmente os vasomotores.
| Condição | Sintomas Semelhantes | Pistas para Diferenciação |
|---|---|---|
| Distúrbios da Tireoide | Hipertireoidismo (palpitações, intolerância ao calor, sudorese) ou Hipotireoidismo (fadiga, depressão, ganho de peso). | Exame da tireoide (bócio), exoftalmia, tremores (hiper). Pele seca, bradicardia (hipo). Dosagem de TSH e T4 livre. |
| Síndrome Carcinoide | Flushing (rubor facial), diarreia, broncoespasmo. | O flushing carcinoide não costuma ser acompanhado de sudorese intensa como nos fogachos. Dosagem de 5-HIAA na urina de 24h. |
| Feocromocitoma | Episódios de palpitações, sudorese, cefaleia e hipertensão paroxística. | Crises hipertensivas associadas aos sintomas. Dosagem de metanefrinas plasmáticas ou urinárias. |
| Transtornos de Ansiedade/Pânico | Palpitações, sudorese, sensação de calor, medo. | Contexto psiquiátrico, ausência de irregularidade menstrual (se na pré-menopausa). |
| Medicamentos | Tamoxifeno, análogos do GnRH, alguns antidepressivos (ISRS/ISRN), opioides. | História de uso da medicação. |
Tratamento e Manejo
O tratamento visa aliviar os sintomas que impactam a qualidade de vida e prevenir as consequências do hipoestrogenismo a longo prazo. A abordagem deve ser individualizada.
Manejo Não Farmacológico
Medidas de estilo de vida são a base do tratamento e devem ser recomendadas a todas as mulheres:
- Atividade Física Regular: Melhora os sintomas vasomotores, o humor, o sono e a saúde óssea e cardiovascular.
- Higiene do Sono: Manter um horário regular para dormir, ambiente escuro e fresco.
- Técnicas de Relaxamento: Yoga, meditação e respiração profunda podem ajudar a controlar o estresse e a ansiedade.
- Ajustes Dietéticos e Comportamentais: Evitar gatilhos para os fogachos, como cafeína, álcool, alimentos picantes e estresse. Usar roupas em camadas para facilitar o controle da temperatura.
- Cessação do Tabagismo: Fundamental para a saúde geral e pode reduzir a gravidade dos sintomas.
Manejo Farmacológico: Terapia Hormonal (TH)
A Terapia Hormonal (TH) é o tratamento mais eficaz para os sintomas vasomotores moderados a graves e para a Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGUM).
Princípio Fundamental: A decisão de iniciar a TH deve ser baseada nos sintomas da paciente, após uma discussão detalhada sobre os potenciais benefícios e riscos, considerando seu histórico médico e preferências.
Regimes de Terapia Hormonal
- Mulheres com Útero: Devem receber Estrogênio + Progestagênio. O progestagênio é obrigatório para proteger o endométrio contra a hiperplasia e o câncer de endométrio induzidos pelo estrogênio isolado.
- Mulheres Histerectomizadas (sem útero): Podem e devem receber apenas Estrogênio. Adicionar um progestagênio neste caso não traz benefícios e aumenta os riscos (como o de câncer de mama).
Vias de Administração
- Oral: Via mais comum. Sofre metabolismo de primeira passagem hepática, o que aumenta a produção de fatores de coagulação e globulina transportadora de hormônios sexuais (SHBG). Associada a um maior risco de tromboembolismo venoso (TEV).
- Transdérmica (adesivo, gel): Evita a primeira passagem hepática. Tem efeito neutro ou menor sobre os fatores de coagulação, sendo associada a um risco significativamente menor de TEV em comparação com a via oral. É a via de preferência para mulheres com fatores de risco para TEV, hipertensão, diabetes ou dislipidemia.
- Vaginal (creme, anel, óvulo): Usada para tratamento exclusivo da SGUM. A absorção sistêmica é mínima em baixas doses, não requerendo oposição com progestagênio na maioria dos casos.
Contraindicações para a Terapia Hormonal
O conhecimento das contraindicações é um ponto-chave para as provas.
| Contraindicações Absolutas | Contraindicações Relativas (requer avaliação criteriosa) |
|---|---|
| Câncer de mama (história pessoal) | Hipertensão arterial controlada |
| Câncer de endométrio (história pessoal) | Diabetes mellitus controlado |
| Sangramento uterino anormal de causa não diagnosticada | Hipertrigliceridemia (> 400 mg/dL) |
| Tromboembolismo venoso (TEV) ou arterial ativo ou prévio | História familiar de câncer de mama |
| Doença hepática aguda ou crônica grave (descompensada) | Miomatose uterina, endometriose |
| Porfiria cutânea tarda | Enxaqueca com aura |
| Doença cardiovascular estabelecida (DAC, AVC) | Doença da vesícula biliar |
Conceito-Chave Validado pelo Exame (ENARE 2020 Q80)
A Terapia Hormonal (TH) é contraindicada em pacientes com doença hepática ativa ou grave. Uma questão do ENARE citou a hepatite C crônica como uma contraindicação. Embora a doença hepática crônica compensada seja uma contraindicação relativa (onde a via transdérmica seria preferível), a doença ativa ou descompensada é uma contraindicação absoluta. O examinador considera hepatopatias crônicas como um impeditivo importante.
Opções Não Hormonais
Para mulheres com contraindicações à TH ou que não desejam usá-la, existem alternativas eficazes para os sintomas vasomotores:
- Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS): Paroxetina (único aprovado pelo FDA para fogachos), Escitalopram, Citalopram.
- Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (ISRN): Venlafaxina, Desvenlafaxina.
- Gabapentina: Anticonvulsivante especialmente útil para mulheres com suores noturnos proeminentes.
- Clonidina: Agonista alfa-2 adrenérgico de eficácia modesta, com efeitos colaterais como boca seca e hipotensão.
Conceito-Chave Validado pelo Exame (ENARE 2024 Q64)
Uma paciente com menopausa precoce pós-quimioterapia para câncer de mama apresenta fogachos intensos e secura vaginal. A TH sistêmica está contraindicada. O manejo correto, cobrado no ENARE, seria: Escitalopram (um ISRS) para os sintomas vasomotores e hidratantes vaginais para a secura. Isso demonstra a importância de conhecer as alternativas não hormonais para populações especiais.
Manejo da Síndrome Geniturinária da Menopausa (SGUM)
A abordagem é escalonada:
- Hidratantes e Lubrificantes Vaginais: Primeira linha. Lubrificantes são usados durante a relação sexual para reduzir o atrito. Hidratantes são usados regularmente (2-3 vezes por semana) para restaurar a umidade e o pH vaginal.
- Estrogênio Vaginal de Baixa Dose: Tratamento mais eficaz para SGUM moderada a grave. Disponível como creme, anel ou tablete vaginal. A absorção sistêmica é mínima, sendo considerado seguro para a maioria das mulheres, inclusive com avaliação cuidadosa em sobreviventes de câncer de mama.
- Ospemifeno: Um modulador seletivo do receptor de estrogênio (SERM) oral, agonista no epitélio vaginal. Alternativa para mulheres que não podem ou não querem usar estrogênio local.
Conceito-Chave Validado pelo Exame (ENARE 2022 Q79)
A principal indicação para a Terapia Hormonal (TH) é o tratamento de sintomas que impactam negativamente a qualidade de vida. O ENARE destacou os sintomas vasomotores (fogachos) e a atrofia urogenital (SGUM) como as indicações primordiais, reforçando que a TH é um tratamento sintomático, e não uma terapia universal para todas as mulheres na pós-menopausa.
Complicações e Prognóstico
A menopausa não é uma doença, mas o hipoestrogenismo a longo prazo aumenta o risco de condições crônicas. A TH, por sua vez, possui riscos que devem ser compreendidos.
Consequências da Menopausa a Longo Prazo
- Osteoporose: A consequência mais bem estabelecida. A perda óssea acelerada nos primeiros 5-7 anos após a menopausa aumenta drasticamente o risco de fraturas por fragilidade, com alta morbimortalidade.
- Doença Cardiovascular (DCV): A menopausa está associada a um aumento do risco de DCV devido a mudanças no perfil lipídico, disfunção endotelial e redistribuição de gordura (aumento da gordura visceral).
- Declínio Cognitivo: Embora a relação seja complexa, há evidências de que o estrogênio tem um papel neuroprotetor, e sua ausência pode contribuir para um maior risco de demência, como a Doença de Alzheimer.
Riscos Associados à Terapia Hormonal
A compreensão dos riscos da TH foi moldada pelo estudo Women's Health Initiative (WHI). Análises posteriores refinaram esses achados, levando ao conceito da "hipótese do tempo" ou "janela de oportunidade".
- Hipótese do Tempo ("Timing Hypothesis"): A TH iniciada em mulheres mais jovens (< 60 anos ou nos primeiros 10 anos de menopausa) tem um perfil de risco-benefício mais favorável. Nesta população, a TH pode até ter um efeito cardioprotetor. Em mulheres mais velhas ou com início tardio, os riscos (especialmente cardiovasculares) superam os benefícios.
- Tromboembolismo Venoso (TEV): O risco é maior com estrogênio oral. A via transdérmica não parece aumentar significativamente este risco.
- Acidente Vascular Cerebral (AVC): Risco aumentado, principalmente com a terapia oral e em mulheres mais velhas.
- Câncer de Mama:
- Terapia Combinada (Estrogênio + Progestagênio): Aumenta o risco de câncer de mama após 3-5 anos de uso.
- Terapia com Estrogênio Isolado: No estudo WHI, não aumentou (e até reduziu) o risco de câncer de mama.
- Câncer de Endométrio: Risco aumentado com o uso de estrogênio isolado em mulheres com útero. O risco é eliminado com a adição de um progestagênio.
O prognóstico para o alívio dos sintomas climatéricos com a terapia adequada é excelente. A maioria das mulheres experimenta uma melhora significativa na qualidade de vida.
Populações Especiais
O manejo do climatério deve ser adaptado a circunstâncias clínicas específicas.
Falência Ovariana Prematura (FOP) e Menopausa Induzida
Mulheres com FOP ou menopausa iatrogênica (cirúrgica, quimio/radioterapia) antes da idade natural da menopausa enfrentam décadas de hipoestrogenismo. Isso acarreta um risco aumentado de osteoporose, doença cardiovascular e mortalidade geral.
- Recomendação: Nestas pacientes, a Terapia Hormonal está fortemente recomendada, na ausência de contraindicações, e deve ser mantida pelo menos até a idade média da menopausa natural (em torno de 51 anos).
- Objetivo: O objetivo não é apenas tratar sintomas, mas sim reduzir os riscos a longo prazo associados à deficiência estrogênica precoce.
Mulheres com Histórico de Cânceres Hormônio-Sensíveis
- Câncer de Mama: A TH sistêmica é classicamente contraindicada. O manejo dos sintomas vasomotores deve ser feito com opções não hormonais (ISRS, ISRN, gabapentina). Para a SGUM, após discussão com o oncologista, o estrogênio vaginal de baixíssima dose pode ser considerado em casos refratários, pois a absorção sistêmica é mínima.
- Câncer de Endométrio: Após o tratamento e sem evidência de doença, a TH pode ser considerada em casos selecionados de sintomas graves, mas a decisão deve ser multidisciplinar.
Mulheres com Comorbidades
- Fatores de Risco Cardiovascular (Hipertensão, Diabetes, Dislipidemia): Não são contraindicações absolutas. A via transdérmica é preferível devido ao menor impacto metabólico e trombogênico. O controle rigoroso dos fatores de risco é mandatório.
- História de TEV: Contraindicação absoluta para a TH sistêmica.
- Doença Hepática: Em doença crônica compensada, a via transdérmica é preferível para evitar o metabolismo de primeira passagem. Em doença ativa ou descompensada, a TH é contraindicada.
