Avaliação da Vitalidade Fetal
A avaliação da vitalidade fetal é um conjunto de métodos propedêuticos que visa aferir o bem-estar do feto, identificando aqueles em risco de hipóxia e acidose. O objetivo principal é intervir de forma oportuna para prevenir desfechos perinatais adversos, como lesão neurológica permanente ou óbito, equilibrando os riscos da intervenção (especialmente o parto prematuro iatrogênico) com os riscos da manutenção da gestação.
Introdução e Epidemiologia
Definições Fundamentais
- Bem-Estar Fetal (Vitalidade Fetal): Refere-se a um estado fisiológico no qual o feto apresenta trocas gasosas adequadas, homeostase acidobásica e um sistema nervoso central íntegro e reativo, permitindo seu crescimento e desenvolvimento intrauterino normais.
- Sofrimento Fetal (Estado Fetal Não Assegurado): É um termo que tem sido substituído por "estado fetal não assegurado" ou "suspeita de comprometimento fetal". Refere-se a uma condição na qual a fisiologia fetal está tão comprometida que a morte ou danos permanentes podem ocorrer em um curto período. É caracterizado por hipoxemia (diminuição do O₂ no sangue), hipóxia (diminuição do O₂ nos tecidos) e acidose metabólica.
Objetivos da Vigilância Fetal
Os objetivos da vigilância fetal se dividem em dois momentos cruciais:
- Vigilância Anteparto: Realizada durante a gestação, visa identificar fetos em risco de morte intrauterina ou de desenvolver complicações decorrentes de hipóxia crônica. O objetivo é determinar o momento ideal para o parto, quando os riscos de permanecer no útero superam os riscos da prematuridade.
- Vigilância Intraparto: Realizada durante o trabalho de parto, visa identificar fetos que não estão tolerando o estresse das contrações uterinas. O objetivo é detectar precocemente a hipóxia aguda para permitir uma intervenção (e.g., fórceps, vácuo-extrator ou cesariana de emergência) antes que ocorra lesão neurológica irreversível.
Identificação de Gestações de Alto Risco
A vigilância fetal intensiva não é indicada para todas as gestantes. Ela é reservada para aquelas com fatores de risco que aumentam a probabilidade de insuficiência placentária ou outras causas de comprometimento fetal. As principais indicações incluem:
- Condições Maternas Pré-existentes:
- Hipertensão Arterial Crônica
- Diabetes Mellitus (Tipo 1, Tipo 2 e Gestacional com mau controle ou insulinodependente)
- Doenças autoimunes (e.g., Lúpus Eritematoso Sistêmico, Síndrome Antifosfolípide)
- Nefropatias e Cardiopatias cianóticas
- Trombofilias
- Complicações da Gestação Atual:
- Pré-eclâmpsia e Síndrome HELLP
- Restrição de Crescimento Fetal (RCF)
- Gestação Prolongada (pós-termo, ≥ 41 semanas)
- Oligoâmnio ou Polidrâmnio
- Isoimunização Rh
- Gestação Múltipla (especialmente monocoriônica)
- História de óbito fetal anterior
- Diminuição da movimentação fetal percebida pela mãe
Fisiopatologia
A Via de Oxigenação Fetal: Unidade Materno-Placentária-Fetal
O oxigênio para o feto percorre um caminho com múltiplos pontos de falha potencial:
- Fluxo Sanguíneo Uterino: Depende da pressão arterial materna e da ausência de vasoconstrição. Condições como hipertensão, pré-eclâmpsia ou hipotensão materna (e.g., por compressão aortocava) podem reduzir este fluxo.
- Espaço Interviloso Placentário: É onde ocorrem as trocas gasosas. A área de superfície e a integridade das vilosidades são cruciais. Descolamento prematuro de placenta, infartos placentários ou insuficiência placentária crônica comprometem esta etapa.
- Fluxo Sanguíneo Umbilical: O fluxo através da veia umbilical leva o sangue oxigenado ao feto. Compressão do cordão umbilical (e.g., circulares, nós verdadeiros, oligoâmnio) interrompe este fluxo.
Respostas Fetais à Hipóxia e Acidemia
O feto possui mecanismos compensatórios para lidar com a hipóxia. A resposta varia se o insulto é agudo ou crônico.
- Resposta à Hipóxia Aguda (e.g., compressão do cordão):
- Ativação de quimiorreceptores periféricos.
- Resposta parassimpática (vagal) inicial, causando desacelerações da frequência cardíaca fetal (FCF).
- Se a hipóxia persiste, há uma resposta simpática com liberação de catecolaminas, causando taquicardia e hipertensão para manter a perfusão de órgãos nobres.
- Metabolismo anaeróbico se instala, levando à produção de ácido lático e acidose metabólica, que é a via final para a lesão celular e neuronal.
- Resposta à Hipóxia Crônica (e.g., insuficiência placentária):
- Redistribuição de Fluxo (Centralização ou "Brain Sparing"): O feto desvia o fluxo sanguíneo para órgãos vitais (cérebro, coração e adrenais) em detrimento de outros (rins, intestino, pulmões). Isso leva a oligoâmnio (diminuição da produção de urina fetal) e restrição de crescimento.
- Diminuição da Atividade: Para conservar energia, o feto reduz seus movimentos, movimentos respiratórios e tônus.
Controle da Frequência Cardíaca Fetal (FCF)
A FCF é controlada pela interação entre o sistema nervoso autônomo (SNA) e o sistema nervoso central (SNC).
- Sistema Nervoso Simpático: Mediado por catecolaminas, causa aceleração da FCF.
- Sistema Nervoso Parassimpático (Nervo Vago): Causa desaceleração da FCF e é o principal responsável pela variabilidade da FCF, um dos indicadores mais importantes de integridade do SNC.
Raciocínio Clínico
A variabilidade da FCF é o "eletrocardiograma" do cérebro fetal. Uma boa variabilidade (moderada, 6-25 bpm) indica que o SNC está recebendo oxigênio suficiente para modular a frequência cardíaca de forma constante. A perda de variabilidade é um sinal ominoso, sugerindo acidose e depressão do SNC.
A Cascata Biofísica Fetal
Em situações de hipóxia crônica e progressiva, os parâmetros biofísicos fetais são perdidos em ordem inversa ao seu aparecimento no desenvolvimento embrionário. Os centros do SNC que controlam essas atividades têm diferentes sensibilidades à hipóxia.
- Primeiros a desaparecer (centros mais sensíveis à hipóxia):
- Reatividade da FCF (acelerações na cardiotocografia)
- Movimentos respiratórios fetais
- Intermediários a desaparecer:
- Movimentos corpóreos grosseiros
- Último a desaparecer (centro mais resistente à hipóxia, localizado no tronco cerebral):
- Tônus fetal (flexão/extensão de membros ou abertura/fechamento da mão)
O volume de líquido amniótico é um marcador de hipóxia mais crônica, refletindo a diminuição da perfusão renal e da produção de urina.
Apresentação Clínica e Indicações para Avaliação
Percepção Materna dos Movimentos Fetais (Mobilograma)
A contagem dos movimentos fetais pela mãe é o método de triagem primário e de baixo custo para o bem-estar fetal. Uma diminuição na movimentação percebida é uma queixa comum e deve ser sempre valorizada.
- Técnica: A gestante, após uma refeição, deve deitar-se em decúbito lateral esquerdo e contar os movimentos fetais.
- Interpretação: Embora existam vários protocolos, um comumente utilizado é o de contar pelo menos 6 movimentos em 1 hora. A ausência ou diminuição significativa em relação ao padrão habitual do feto requer avaliação complementar imediata com cardiotocografia (CTG) ou Perfil Biofísico Fetal (PBF).
Indicações Clínicas para Iniciar a Vigilância
Além da diminuição da movimentação fetal, a avaliação formal da vitalidade é indicada nas seguintes situações:
- Todas as condições de alto risco listadas anteriormente (e.g., pré-eclâmpsia, diabetes, RCF).
- Sangramento vaginal no terceiro trimestre.
- Suspeita clínica de oligoâmnio (altura uterina menor que a esperada).
- Após trauma materno significativo.
- Durante o trabalho de parto (monitorização intraparto).
Propedêutica Diagnóstica
A avaliação da vitalidade fetal é realizada por meio de uma combinação de testes que avaliam diferentes aspectos da fisiologia fetal.
Cardiotocografia (CTG)
A CTG, também conhecida como Teste de Reatividade Fetal ou Non-Stress Test (NST), avalia a frequência cardíaca fetal e sua relação com os movimentos fetais e as contrações uterinas. É o método de rastreio mais comum.
Parâmetros Avaliados:
- Linha de Base da FCF: A frequência média em um segmento de 10 minutos, excluindo acelerações e desacelerações.
- Normal: 110-160 bpm.
- Taquicardia: > 160 bpm por > 10 min (Causas: hipóxia inicial, febre materna, drogas, infecção).
- Bradicardia: < 110 bpm por > 10 min (Causas: hipóxia tardia, bloqueio cardíaco congênito).
- Variabilidade: Flutuações na linha de base. É o indicador mais importante de integridade do SNC e reserva de oxigênio.
- Ausente: Amplitude indetectável.
- Mínima: Amplitude ≤ 5 bpm.
- Moderada (Normal): Amplitude de 6 a 25 bpm.
- Acentuada: Amplitude > 25 bpm.
- Acelerações: Aumentos transitórios da FCF. Indicam um feto reativo e bem oxigenado.
- Definição (≥ 32 semanas): Aumento de ≥ 15 bpm na FCF acima da linha de base, durando ≥ 15 segundos.
- Definição (< 32 semanas): Aumento de ≥ 10 bpm, durando ≥ 10 segundos.
- Desacelerações: Quedas transitórias da FCF. Classificadas com base em sua relação com as contrações.
- Desaceleração Precoce (DIP I ou Cefálica): Queda gradual e simétrica da FCF, cujo nadir (ponto mais baixo) coincide com o acme (pico) da contração. É causada pela compressão do polo cefálico e é um achado fisiológico/benigno.
- Desaceleração Tardia (DIP II ou Uteroplacentária): Queda gradual e simétrica da FCF, cujo nadir ocorre após o acme da contração. É causada por insuficiência uteroplacentária e é um sinal preocupante de hipóxia fetal.
- Desaceleração Variável (DIP III ou Umbilical): Queda abrupta (< 30s do início ao nadir) e de formato variável (U, V, W). É causada pela compressão do cordão umbilical. Se forem graves ou recorrentes, podem levar à acidose.
- Desaceleração Prolongada: Queda da FCF ≥ 15 bpm abaixo da linha de base, durando > 2 minutos, mas < 10 minutos. Se durar > 10 minutos, é considerada uma mudança na linha de base (bradicardia).
Interpretação e Classificação (FIGO 2015 - Intraparto)
A interpretação da CTG classifica o traçado em categorias que guiam a conduta.
| Categoria | Características | Interpretação | Conduta |
|---|---|---|---|
| Categoria I (Normal) |
|
Traçado normal, associado a um estado acidobásico fetal normal. | Manter observação de rotina. |
| Categoria II (Indeterminada) | Qualquer traçado que não se enquadre na Categoria I ou III. Inclui, por exemplo:
|
Não é preditiva de acidemia fetal, mas requer vigilância contínua e, possivelmente, intervenções. | Iniciar medidas de ressuscitação intrauterina, investigar a causa e reavaliar. Considerar testes adicionais. |
| Categoria III (Anormal) |
|
Traçado anormal, fortemente associado a hipóxia e acidemia fetal. | Emergência obstétrica. Realizar medidas de ressuscitação intrauterina e preparar para parto imediato pela via mais rápida (geralmente cesariana). |
Armadilhas do ENARE: Conceito-Chave (ENARE_2022_Q70)
As provas frequentemente testam a capacidade de classificar um traçado de CTG. Lembre-se da combinação fatal da Categoria III: Variabilidade Ausente + Desacelerações Recorrentes (Tardias ou Variáveis) ou Bradicardia. O padrão sinusoidal também classifica o traçado como Categoria III e está associado a anemia fetal grave (e.g., por isoimunização Rh ou hemorragia feto-materna) ou hipóxia grave.
Perfil Biofísico Fetal (PBF)
O PBF é um teste mais completo que combina a CTG com quatro parâmetros avaliados por ultrassonografia. Ele avalia marcadores de hipóxia aguda (tônus, movimentos, respiração) e crônica (líquido amniótico).
Componentes e Pontuação:
Cada um dos 5 componentes recebe uma pontuação de 2 (se presente/normal) ou 0 (se ausente/anormal). A pontuação máxima é 10.
| Parâmetro Biofísico | Normal (2 pontos) | Anormal (0 pontos) |
|---|---|---|
| 1. Cardiotocografia (CTG) | Reativa (≥ 2 acelerações em 20 min) | Não reativa (< 2 acelerações em 20 min) |
| 2. Movimentos Respiratórios | ≥ 1 episódio de ≥ 30 segundos em 30 min | Ausentes ou < 30 segundos em 30 min |
| 3. Movimentos Corporais | ≥ 3 movimentos de corpo/membros em 30 min | < 3 movimentos em 30 min |
| 4. Tônus Fetal | ≥ 1 episódio de extensão com retorno à flexão (e.g., abrir e fechar a mão) | Movimento lento ou ausência de retorno à flexão |
| 5. Volume de Líquido Amniótico | Índice de Líquido Amniótico (ILA) > 5 cm OU maior bolsão vertical > 2 cm | ILA ≤ 5 cm OU maior bolsão vertical ≤ 2 cm (Oligoâmnio) |
Interpretação e Conduta:
- 10/10 ou 8/10 (com ILA normal): Risco muito baixo de asfixia. Conduta expectante, repetir o teste semanalmente ou conforme indicação clínica.
- 8/10 (com oligoâmnio): Suspeita de hipóxia crônica. A conduta depende da idade gestacional, mas geralmente indica interrupção da gestação.
- 6/10: Teste equívoco. Se a gestação for a termo, considerar parto. Se pré-termo, repetir o teste em 24 horas e considerar corticoterapia. Se houver oligoâmnio, a interrupção é indicada.
- 4/10: Alta suspeita de asfixia. A interrupção da gestação é geralmente indicada.
- 2/10 ou 0/10: Asfixia fetal iminente. Interrupção imediata da gestação.
Armadilhas do ENARE: Conceito-Chave (ENARE_2020_Q64)
A questão clássica de prova envolve a "cascata biofísica". Dada a sequência de perda de parâmetros em hipóxia crônica, o tônus fetal é o último a ser perdido. Um feto que perdeu o tônus (nota 0 em tônus) está em um estado de comprometimento gravíssimo, pois o centro neurológico que o controla é o mais resistente à hipóxia. A presença de tônus, mesmo com outros parâmetros ausentes, indica alguma reserva.
Dopplervelocimetria Obstétrica
O Doppler avalia o fluxo sanguíneo em vasos maternos e fetais, fornecendo informações hemodinâmicas cruciais, especialmente em casos de Restrição de Crescimento Fetal (RCF).
- Artéria Umbilical (AU): Reflete a resistência da circulação placentária. Em uma placenta saudável, a resistência é baixa. Com a insuficiência placentária, a resistência aumenta, levando a:
- Aumento do índice de pulsatilidade (IP).
- Diástole ausente (diástole zero): Sinal de grave comprometimento placentário.
- Diástole reversa: Sinal de gravíssimo comprometimento, associado a alto risco de óbito fetal.
- Artéria Cerebral Média (ACM): Avalia a perfusão cerebral fetal. Em resposta à hipóxia, ocorre vasodilatação cerebral para proteger o cérebro (fenômeno de centralização ou "brain sparing"). Isso é detectado por uma diminuição no seu índice de pulsatilidade. A relação cerebroplacentária (IP da ACM / IP da AU) < 1 confirma a centralização.
- Ducto Venoso (DV): Avalia a função cardíaca fetal e o estado acidobásico. Alterações no fluxo do ducto venoso (onda 'a' ausente ou reversa) são sinais tardios e ominosos, indicando falência do miocárdio e acidemia iminente.
Teste de Estímulo Sonoro Simplificado (Vibroacoustic Stimulation)
É uma manobra utilizada para "acordar" o feto durante uma CTG não reativa. Um estímulo sonoro e vibratório é aplicado no abdome materno sobre o polo cefálico fetal por 1-2 segundos. Uma resposta positiva é o aparecimento de uma aceleração, o que torna o traçado reativo e tranquilizador. A ausência de resposta após o estímulo mantém o traçado como não reativo e exige investigação adicional.
Tratamento e Manejo
Manejo do Estado Fetal Não Assegurado (Medidas de Ressuscitação Intrauterina)
Quando um traçado de CTG Categoria II ou III é identificado, medidas devem ser tomadas para melhorar a oxigenação fetal enquanto se prepara para uma possível intervenção.
- Reposição Materna: Colocar a gestante em decúbito lateral esquerdo para aliviar a compressão aortocava e melhorar o retorno venoso e o fluxo uteroplacentário.
- Hidratação Intravenosa: Um bolus de cristaloide (e.g., Ringer Lactato) pode expandir o volume intravascular materno e melhorar a perfusão placentária.
- Suspender Ocitocina: Se em uso, a ocitocina deve ser interrompida imediatamente para diminuir a frequência e a intensidade das contrações, melhorando o fluxo sanguíneo para o útero nos intervalos.
- Oxigenioterapia Materna: Administrar oxigênio (8-10 L/min) via máscara facial. Embora controverso, é frequentemente utilizado na prática.
- Tocólise Aguda: Em casos de taquissistolia ou desacelerações graves, um tocolítico de curta ação (e.g., terbutalina subcutânea) pode ser usado para relaxar o útero temporariamente.
Se essas medidas não normalizarem o traçado, o parto deve ser realizado pela via mais rápida e segura.
Tomada de Decisão Baseada nos Testes
A decisão de manter a gestação ou realizar o parto é um balanço complexo entre a idade gestacional, a gravidade do comprometimento fetal e as condições maternas.
- CTG Categoria I ou PBF 10/10: Tranquilizador. Manter conduta expectante.
- CTG Categoria II ou PBF 6/10: Zona cinzenta. Requer vigilância intensificada, repetição do teste e, dependendo da idade gestacional, considerar a interrupção.
- CTG Categoria III, PBF ≤ 4/10, ou Doppler com Diástole Reversa/Ducto Venoso alterado: Indicam comprometimento grave. A interrupção da gestação é a conduta de escolha, independentemente da idade gestacional, após estabilização materna.
Complicações e Prognóstico
Consequências do Manejo Inadequado
A falha em reconhecer e tratar o comprometimento fetal pode levar a desfechos devastadores:
- Encefalopatia Hipóxico-Isquêmica (EHI): Lesão cerebral aguda devido à asfixia perinatal, podendo levar a um espectro de disfunções neurológicas.
- Paralisia Cerebral: Um grupo de desordens motoras permanentes. A asfixia perinatal é uma das causas, embora não seja a mais comum.
- Síndrome de Aspiração Meconial (SAM): Ocorre quando o feto, em resposta à hipóxia, elimina mecônio no líquido amniótico e o aspira, causando grave desconforto respiratório ao nascer.
- Óbito Fetal ou Neonatal.
Limitações dos Métodos de Vigilância
É crucial entender que todos os testes de vitalidade fetal têm limitações.
- Alto Valor Preditivo Negativo: Um teste normal (e.g., CTG Categoria I, PBF 10/10) é altamente confiável em prever que o feto não morrerá por hipóxia na próxima semana.
- Baixo Valor Preditivo Positivo (Alta Taxa de Falsos-Positivos): Um teste anormal tem uma alta chance de ser um falso-positivo. Muitos fetos com CTG Categoria II ou PBF 6/10 nascem em boas condições. Isso leva a um aumento nas taxas de intervenção, incluindo cesarianas, que podem não ter sido necessárias.
Considerações Especiais e Protocolos
Protocolos para Condições de Alto Risco
- Restrição de Crescimento Fetal (RCF): A vigilância é focada no Doppler. A sequência de alterações (AU -> ACM -> DV) guia o momento do parto. O PBF também é crucial. A CTG isoladamente é um marcador tardio de comprometimento na RCF.
- Gestação Prolongada (Pós-termo): A principal preocupação é a "senescência" placentária e o risco de oligoâmnio. A vigilância geralmente começa com 41 semanas e inclui CTG e avaliação do ILA (PBF modificado) duas vezes por semana.
- Diabetes Mellitus: O risco é de macrossomia e insuficiência placentária súbita. A vigilância (CTG e PBF) geralmente começa entre 32-34 semanas, com frequência semanal ou bi-semanal, dependendo do controle glicêmico e da presença de comorbidades.
Vigilância Anteparto vs. Intraparto
- Objetivo Anteparto: Prevenir o óbito fetal. Avalia principalmente a hipóxia crônica. Testes como PBF e Doppler são fundamentais.
- Objetivo Intraparto: Prevenir a asfixia neonatal e a lesão neurológica. Avalia a resposta fetal à hipóxia aguda do estresse das contrações. A CTG contínua é o método principal.
Referência Rápida: Integração dos Métodos
Pense nos testes como uma escada de complexidade e gravidade:
- Mobilograma: Triagem inicial feita pela mãe. Se alterado, prossiga.
- Cardiotocografia (CTG): Avaliação da reatividade do SNC. Se normal, tranquilizador. Se alterado, prossiga.
- Perfil Biofísico Fetal (PBF): Avaliação mais completa, combinando marcadores agudos e crônicos. Guia a conduta imediata.
- Dopplervelocimetria: Ferramenta essencial para manejo de longo prazo na RCF, avaliando a hemodinâmica feto-placentária e guiando o timing do parto.
